segunda-feira, 30 de junho de 2008

Looking through the

backyard of my life

Time to sweep the

fallen leaves away

Too Much Rain




Laugh when your eyes are burning

Smile when your heart is filled with pain

Sigh as you brush away your sorrow

Make a vow that it's not gonna happen again



It's not right in one life too much rain



You know the wheels keep turning

Why do the tears run down your face?

We used to hide away our feelings

But for now tell yourself it won't happen again



It's not right in one life too much rain



It's too much for anyone

Too hard for anyone

Who wants a happy and peaceful life

You've gotta learn to laugh



Smile when you're spinning round and round

Sigh as you think about tomorrow

Make a vow that your gonna be happy again



It's all right in your life no more rain



It's too much for anyone

Too hard for anyone

Who wants a happy and peaceful life

You've gotta learn to laugh
(Paul McCartney)

Vista cansada



Acho que foi o Hemingway quem disse que olhava cada coisa à sua volta
como se a visse pela última vez. Pela última ou pela primeira vez?
Pela primeira vez foi outro escritor quem disse. Essa idéia de olhar
pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem
não crê que a vida continua, não admira que o Hemingway tenha acabado
como acabou.


Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta.
Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto
ver, a gente banaliza o olhar. Vê não-vendo. Experimente ver pela
primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não
é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade.
O campo visual da nossa rotina é como um vazio.


Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe
perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto
ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio
pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo,
o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado
ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de
falecer.


Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima
idéia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que
morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito,
pode ser também que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja
os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente,
coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.


Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos
para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez
o que, de fato, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho.
Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos
olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração
o monstro da indiferença.

(Otto Lara Resende)

sábado, 28 de junho de 2008



Aos 54 anos, Roberto Dinamite assume a presidência do Vasco com a missão de levar o time às conquistas, o que não acontece desde 2003. Além disso, o dirigente vai ter a missão de recuperar o prestígio e a simpatia do clube, que foram ficando pelo caminho durante a gestão de Eurico Miranda. Maior artilheiro da história do clube, com 708 gols, o ex-jogador espera montar uma equipe forte, aumentar o patrimônio cruzmaltino e recuperar o poder de investimento com o auxílio de novos parceiros.



SURGE O DINAMITE



Roberto chegou ao Vasco em 1969 levado por um olheiro do clube. Em sua primeira temporada, o jogador ganhou massa muscular, pois era muito franzino. Um mês após desembarcar na Colina, Calu, como era conhecido nos tempos de garoto, já era titular dos juvenis. No Carioca da categoria, em 1970, ele assinalou dez gols. No ano seguinte, na mesma competição, foram 13. A artilharia da competição chamou a atenção do treinador dos profissionais, Mário Travaglini, que promoveu o garoto para a disputa do Campeonato Brasileiro de 1971.



Aos 18 anos, Roberto fez a sua estréia nos profissinais do Vasco. O time acabou derrotado pelo Bahia por 1 a 0, no dia 14 de novembro de 71. Classificado para a fase seguinte do Brasileirão, o time da Colina estava prestes a encarar o Atlético-MG, que viria a ser o campeão nacional daquele ano. Em uma atividade antes do confronto, o atacante teve atuação destacada e ganhou a vaga de titular. No dia seguinte, um jornal carioca estampou: "Vasco escala garoto-dinamite!"



O primeiro gol do "garoto-dinamite" só aconteceu no dia 28 de novembro de 71. Na partida contra o Internacional, Roberto entrou no segundo tempo no lugar de Gilson Nunes. Em seu primeiro lance, ele passou por quatro adversários e marcou o segundo gol do Vasco na partida conra o Internacional. De lá para cá, o garoto abriu passagem para Roberto Dinamite.



IDENTIFICAÇÃO COM O VASCO



A partir do primeiro gol, Roberto criou uma identificação com o clube da Colina. De 1971 a 1980, o jogador não cansou de balançar a rede dos rivais. No primeiro ano da década de 80, o jogador se transferiu para o Barcelona, mas sem conseguir se adaptar logo retornou a São Januário. Curiosamente, o seu maior opositor nas últimas eleições do Vasco, Eurico Miranda foi um dos responsáveis por sua volta.



Fora Vasco e Barcelona, Roberto tem passagens pela Portuguesa, em 1989, e pelo Campo Grande, em 1991. Na Lusa, o jogador foi comandado por Antônio Lopes e participou de seu último campeonato brasileiro. Lá, ele balançou a rede nove vezes. Em sua última volta ao time da Colina, o atacante foi fundamental na conquista do título estadual de 1992 de forma invicta.



Com a camisa cruzmaltina, Dinamite marcou 702 gols, sendo 190 em campeonatos brasileiros. Até hoje, o jogador é o mais goleador de campeonatos nacionais. Ao longo de sua vida como profissional, Roberto conquistou 37 títulos.



SELEÇÃO BRASILEIRA



Na seleçao brasileira, Dinamite participou de duas copas do mundo, em 1978 e 1982. Com a amarelinha, ele marcou 26 gols. No entanto, não conquistou nenhum título de expressão. Em 1978, Dinamite ajudou a equipe a passar para a segunda fase do torneio ao marcar um gol na terceira partida da fase inicial do torneio, contra a Áustria. Ele encerrou o Mundial com três gols.



Em 1982, Roberto foi convocado em cima da hora pelo então treinador da seleção brasileira, Telê Santana, mas não foi utilizado em nenhuma partida da competição. O jogador se restringiu a participar dos treinamentos. Com a camisa canarinho, ele foi artilheiro da Copa América de 1983.



POLÍTICA VASCAÍNA



Roberto chega a sua terceira eleição como candidato da situação, já que o pleito de 2006 foi adiado. Opositor de Eurico Miranda por não concordar com a forma como o dirigente comanda o futebol vascaíno, Dinamite sonha com dias melhores para o Vasco. Na chapa "Por Amor ao Vasco", ele sonha recuperar o prestígio do clube, montar uma equipe forte para a disputa das competições, e melhorar o poder de investimento e de aceitação da marca cruzmaltina no setor privado.



Nas eleições anteriores, o dirigente perdeu por uma pequena margem de votos, mas sempre contestando a forma que foi realizado o pleito. Em 2006, o dirigente entrou na Justiça por causa de irregularidades na assembléia daquele ano e conseguiu a remarcação de uma nova eleição em 2008. No último sábado, a chapa de Dinamite conseguiu vencer na opinião dos associados. Nesta sexta-feira, o conselho deliberativo ratificou a vitória do candidato da oposição.



Fonte: GloboEsporte.com

Casaca, casaca, casaca,
a turma, é boa, é mesmo
da fuzarca!
Vasco! Vasco! Vasco!

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Insomnia

Tomorrow will be another

part of yesterday

And yesterday will be another

part of the day before...

With a Little Bit of Luck

The Lord above gave man an arm of iron
So he could do his job and never shirk
The Lord above gave man an arm of iron
But, with a little bit of luck, with a little bit of luck
Someone else will do the blinkin' work
(With a little bit, with a little bit)
(With a little bit of luck you'll never work)

The Lord above made liquor for temptation
To see if man could turn away from sin
The Lord above made liquor for temptation
But, with a little bit of luck, with a little bit of luck
When temptation comes you'll give right in


(With a little bit, with a little bit)
(With a little bit of luck you'll give right in)
Oh you can walk the straight and narrow
But with a little bit of luck you'll run amok


The gentle sex was made for man t'marry
To share his nest and see his food is cooked
The gentle sex was made for man t'marry
But, with a little bit of luck, with a little bit of luck
You can have it all and not get hooked
(With a little bit, with a little bit)
(With a little bit of luck you won't get hooked)
(With a little bit, with a little bit)
(With a little bit of bloomin' luck)


The Lord above made man to help his neighbor
No matter where on land or sea or foam
The Lord above made man to help his neighbor
But, with a little bit of luck, with a little bit of luck
WHEN HE COMES AROUND YOU WON'T BE HOME!!
(With a little bit, with a little bit)
(With a little bit of luck you won't be home)
They're always throwing goodness at you
But, with a little bit of luck a man can duck


Oh it's a crime for man to go philanderin'
And fill his wife's poor heart with grief and doubt
Oh it's a crime for man to go philanderin'
But, with a little bit of luck, with a little bit of luck
You can see the bloodhound don't find out
(With a little bit, with a little bit)
(With a little bit of luck she won't find out)
(With a little bit, with a little bit)
(With a little bit of bloomin' luck)


A man was made to help support his children
Which is the right and proper thing to do
A man was made to help support his children
But, with a little bit of luck, with a little bit of luck
They'll go out and start supporting you
(With a little bit, with a little bit)
(With a little bit of luck they'll work for you)


(He doesn't have a tuppence in his pocket)
(The poorest bloke you'll ever hope to meet)
(He doesn't have a tuppence in his pocket)
(But, with a little bit of luck, with a little bit of luck)
(He'll be movin' up to Easy Street)
(With a little bit, with a little bit)
(With a little bit of luck I'm movin' up)
(With a little bit, with a little bit)
(With a little bit of bloomin' luck)


Do musical da Broadway "My Fair Lady"
(Alan Jay Lerner / Frederick Loewe)


domingo, 22 de junho de 2008

Well, well, well your feeling fine,

Well, well, well, he'll make you ...

Lonely Road (nu nu)

I tried to get over you
I tried to find something new
But all I could ever do
Was fill my time
With thoughts of you


I tried to go somewhere old
To search for my pot of gold
But all I could ever hold
Inside my mind
Were thoughts of you


I hear your music
And it's driving me wild
Familiar rhythms
In a different style
I hear your music
And it's driving me wild again


Don't want to let you take me down
Don't want to get hurt second time around
Don't want to walk that lonely road again


I hear your music
And it's driving me wild
Familiar rhythms
In a different style
I hear your music
And it's driving me wild again


Don't want to let you take me down
Don't want to get hurt second time around
Don't want to walk that lonely road again


Don't want to let you take me down
Don't want to get hurt second time around
Don't want to walk that lonely road again

(Paul McCartney)

Changes


Low down
Ooo
Still don't know what I was waiting for
And my time was running wild
A million dead-end streets and
Every time I thought I'd got it made
It seemed the taste was not so sweet
So I turned myself to face me
But I've never caught a glimpse
Of how the others must see the faker
I'm much too fast to take that test
Ch-ch-ch-ch-Changes
(Turn and face the strange)
Ch-ch-Changes
Don't wanna be a richer man
Ch-ch-ch-ch-Changes
(Turn and face the strange)
Ch-ch-Changes
Just gonna have to be a different man
Time may change me
But I can't trace time
Ooo yeah
I watch the ripples change their size
But never leave the stream
Of warm impermanence and
So the days float through my eyes
But still the days seem the same
And these children that you spit on
As they try to change their worlds
Are immune to your consultations
They're quite aware of what they're going through
Ch-ch-ch-ch-Changes
(Turn and face the strange)
Ch-ch-Changes
Don't tell them to grow up and out of it
Ch-ch-ch-ch-Changes
(Turn and face the strange)
Ch-ch-Changes
Where's your shame
You've left us up to our necks in it
Time may change me
But you can't trace time
Strange fascination, fascinating me
Ah Changes are taking the pace I'm going through
Ch-ch-ch-ch-Changes
(Turn and face the strange)
Ch-ch-Changes
Oh, look out you rock 'n rollers
Ch-ch-ch-ch-Changes
(Turn and face the strange)
Ch-ch-Changes
Pretty soon now you're gonna get older
Time may change me
But I can't trace time
I said that time may change me
But I can't trace time
(David Bowie)

sábado, 21 de junho de 2008

Hoje é dia de depor ditador...
... Just me and my thoughts

sailing
far away

Like a warm drink it seeps


into my soul

Please just leave me right here


on my own

Later on you could spend


some time with me

If you want to ...

Haiti


Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for a festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino do primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

(Caetano Veloso - Gilberto Gil)

sexta-feira, 20 de junho de 2008

You can't always get

what you want

But if you try sometimes

well you might find

You get what you need

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Insônia


Não durmo, nem espero dormir.
Nem na morte espero dormir.
Espera-me uma insônia da largura dos astros,
E um bocejo inútil do comprimento do mundo.
Não durmo; não posso ler quando acordo de noite,
Não posso escrever quando acordo de noite,
Não posso pensar quando acordo de noite —
Meu Deus, nem posso sonhar quando acordo de noite!
Ah, o ópio de ser outra pessoa qualquer!
Não durmo, jazo, cadáver acordado, sentindo,
E o meu sentimento é um pensamento vazio.
Passam por mim, transtornadas, coisas que me sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que me não sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada,
E até dessas me arrependo, me culpo, e não durmo.
Não tenho força para ter energia para acender um cigarro.
Fito a parede fronteira do quarto como se fosse o universo.
Lá fora há o silêncio dessa coisa toda.
Um grande silêncio apavorante noutra ocasião qualquer,
Noutra ocasião qualquer em que eu pudesse sentir.
Estou escrevendo versos realmente simpáticos —
Versos a dizer que não tenho nada que dizer,
Versos a teimar em dizer isso,
Versos, versos, versos, versos, versos...
Tantos versos...
E a verdade toda, e a vida toda fora deles e de mim!
Tenho sono, não durmo, sinto e não sei em que sentir.
Sou uma sensação sem pessoa correspondente, Uma abstração de autoconsciência sem de quê,
Salvo o necessário para sentir consciência,
Salvo — sei lá salvo o quê...
Não durmo. Não durmo. Não durmo.
Que grande sono em toda a cabeça e em cima dos olhos e na alma!
Que grande sono em tudo exceto no poder dormir!
Ó madrugada, tardas tanto... Vem...
Vem, inutilmente,
Trazer-me outro dia igual a este, a ser seguido por outra noite igual a esta...
Vem trazer-me a alegria dessa esperança triste,
Porque sempre és alegre, e sempre trazes esperança,
Segundo a velha literatura das sensações.
Vem, traz a esperança, vem, traz a esperança.
O meu cansaço entra pelo colchão dentro.
Doem-me as costas de não estar deitado de lado.
Se estivesse deitado de lado doíam-me as costas de estar deitado de lado.

Vem, madrugada, chega!

Que horas são? Não sei.
Não tenho energia para estender uma mão para o relógio,
Não tenho energia para nada, para mais nada...
Só para estes versos, escritos no dia seguinte.
Sim, escritos no dia seguinte.
Todos os versos são sempre escritos no dia seguinte.
Noite absoluta, sossego absoluto, lá fora.
Paz em toda a Natureza.
A Humanidade repousa e esquece as suas amarguras.
Exatamente.
A Humanidade esquece as suas alegrias e amarguras.
Costuma dizer-se isto.
A Humanidade esquece, sim, a Humanidade esquece,
Mas mesmo acordada a Humanidade esquece.

Exatamente. Mas não durmo.


(Álvaro de Campos)

A Perfeição


O que me tranqüiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.

O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.

Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição.
(Clarice Lispector)

Samba do Grande Amor


Tinha cá pra mim
Que agora sim
Eu vivia enfim o grande amor
Mentira
Me atirei assim
De trampolim
Fui até o fim um amador
Passava um verão
A água e pão
Dava o meu quinhão pro grande amor
Mentira
Eu botava a mão
No fogo então
Com meu coração de fiador
Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito
Exijo respeito, não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira
Fui muito fiel
Comprei anel
Botei no papel o grande amor
Mentira
Reservei hotel
Sarapatel
E lua-de-mel em Salvador
Fui rezar na Sé
Pra São José
Que eu levava fé no grande amor
Mentira
Fiz promessa até
Pra Oxumaré
De subir a pé o Redentor
Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito
Exijo respeito, não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira
(Chico Buarque)

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Agora Falando Sério

Agora falando sério
Eu queria não cantar
A cantiga bonita
Que se acredita
Que o mal espanta
Dou um chute no lirismo
Um pega no cachorro
E um tiro no sabiá
Dou um fora no violino
Faço a mala e corro
Pra não ver a banda passar

Agora falando sério
Eu queria não mentir
Não queria enganar
Driblar, iludir
Tanto desencanto
E você que está me ouvindo
Quer saber o que está havendo
Com as flores do meu quintal?
O amor-perfeito, traindo
A sempre-viva, morrendo
E a rosa, cheirando mal

Agora falando sério
Preferia não falar
Nada que distraísse
O sono difícil
Como acalanto
Eu quero fazer silêncio
Um silêncio tão doente
Do vizinho reclamar
E chamar polícia e médico
E o síndico do meu prédio
Pedindo pra eu cantar

Agora falando sério
Eu queria não cantar
Falando sério

Agora falando sério
Eu queria não falar
Falando sério

(Chico Buarque)

terça-feira, 17 de junho de 2008

Tabacaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo
que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso?
Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos, 15-1-1928

domingo, 15 de junho de 2008

Flor em 3 dimensões


Biblioteca Virtual Gratuita


Um serviço de utilidade pública pode ser extinto apenas por falta de divulgação e acessos. A biblioteca virtual hospedada no portal do Governo Federal é uma ótima fonte de conhecimento para alunos de qualquer idade e outros interessados em literatura e leitura em geral.
Com um sistema de busca inteligente, facilita o acesso aos clássicos literários e também à textos técnicos e filosóficos em arquivos de texto, de imagem, de audio e de video.
Confiram!

Cruz de Malta


De todos os amores que eu tive és o mais antigo

Vasco minha vida, minha história, meu primeiro amigo

Quem não te conhece me pergunta porque te segui

Eu levo a cruz de malta no meu peito desde que nasci.

E eu não paro, não paro não.

A cruz de malta Meu coração.

Vasco da gama, minha paixão

Vasco da gama, religião.

Guerreiros do Almirante

Vou torcer pro Vasco ser campeão

São Januário, meu caldeirãão.

Vou torcer pro Vasco ser campeão

São Januário... meu caldeirãão.

Vasco, tua Glória é tua história

é relembraar... o expresso da vitória.

Contra o River Plate, sensacional

Gol do JUNINHO, no monumentaaaal.

José Bispo Clementino dos Santos (12/05/1913 - 14/06/2008)

Homenagem ao velho mangueirense e vascaíno Jamelão, nascido em São Cristóvão, pertinho de São Januário, e histórico interprete da Estação Primeira. 'Seu' José Bispo ficará marcado na minha memória como a voz que me fez torcer em várias quartas de cinzas pela nota dez!
Vá com Deus, Jamelão! E, se tiver samba no céu, assuma seu lugar de puxador oficial do paraíso.

Ilmo Sr. Ciro Monteiro ou Receita Pra Virar Casaca de Neném


Amigo Ciro
Muito te admiro
O meu chapéu te tiro
Muito humildemente
Minha petiz
Agradece a camisa
Que me deste à guisa
De gentil presente
Mas caro nego
Um pano rubro-negro
É presente de grego
Não de um bom irmão
Nós separados
Nas arquibancadas
Temos sido tão chegados
Na desolação
Amigo velho Amei o teu conselho
Amei o teu vermelho
Que é de tanto ardor
Mas quis o verde
Que te quero verde
É bom pra quem vai ter
De ser bom sofredor
Pintei de branco o teu preto
Ficando completo
O jogo da cor
Virei-lhe o listrado do peito
E nasceu desse jeito
Uma outra tricolor
(Chico Buarque)